08 agosto 2010

Meu pai.

Piratininga, RJ, anos 70. Meu pai tenta resguardar seu picolé da voraz Pollyanna.
Adoro conhecer gente nova, fazer novas amizades, sair e, principalmente, conversar... Nisso puxei o meu pai: ele começava uma conversa em qualquer lugar e, em pouco tempo, já tinha feito um novo amigo.
Gosto de ter herdado essa característica dele, posso engatar uma conversa na outra com facilidade e me comunico bem com ricos, pobres, falantes e calados. Nem me preocupo em saber se me acham chata, porque sempre me divirto muito nesses bate-papos.
Hoje, no Dia dos Pais, me lembrei muito dos sábados que eu e meu pai passávamos juntos. Ele acordava cedo e, ao passar pela porta do meu quarto, balançava as chaves do Opala, dando o sinal de que estava pronto para sair para nosso programa favorito: fazer compras no supermercado. Minha mãe sempre foi uma negação nesse quesito e meu pai assumiu a tarefa logo no começo do casamento e isso nunca mais foi questionado.
Meu pai era um cara muito moderno, não ligava a mínima para os papéis pré-definidos de marido e mulher. Numa época em que homem na cozinha causava estranhamento e cochichos maldosos, ele pilotava o fogão destemidamente e deliciava os amigos e a família com seus famosos cozido e, é claro, sua pièce de résistance, o peru natalino, que era preparado com muitas injeções de manteiga derretida e ficava tão macio e saboroso que praticamente derretia na boca.
Meu pai era taurino e a astrologia diz que os nativos deste signo são consumistas. E, de fato, ele era do tipo que comprava os novos produtos novos anunciados na TV, testava e depois dava o seu parecer, geralmente para algum desconhecido nos corredores do Slaviero, o supermercado a que íamos em Brasília (para quem não sabe, cresci por lá).
Era ele também quem coordenava as empregadas e fazia questão de uma mesa sempre farta, outra característica que herdei dele.
As idas ao supermercado, eu percebi anos depois, eram um treinamento intensivo para o meu futuro: aprendi a escolher frutas, legumes e verduras, a organizar o carrinho e a lista de compras e, principalmente, a farejar uma pechincha.
Quem me conhece sabe que sou mestra em comprar coisas que parecem caríssimas em lugares insuspeitos por um valor baixíssimo. Minhas amigas sempre me pedem ajuda para comprar roupas e acessórios e eu jamais recuso porque me divirto muito fazendo isso. Me considero quase uma compradora profissional. Não sou dessas que fica perdida olhando cabide por cabide, sem saber o que pegar. Meu olho é treinado e quando eu pego alguma coisa é como um índio pescando no rio: um lance certeiro e a boa pesca está garantida. Outra coisa na qual sou boa e que aprendi com meu pai é comprar "de baciada". É só me soltar numa liquidação que eu sempre vou achar as melhores peças com os menores preços.
É engraçado que hoje, Dia dos Pais, eu me lembre de coisas tão banais. Eu certamente poderia listar muitas qualidades, todas nobres e louváveis, mas no fundo, o que eu mais sinto falta é justamente dessa camaradagem que tínhamos. Numa época em que não se teorizava a educação dos filhos como hoje, meu pai já sabia como criar vínculos, definia com a filha uma cumplicidade, influenciando e ensinando sem ser pedante. Ele já praticava o tal conceito de "bond" e "quality time". O cara era mesmo muito moderno.
Saudades de você, seu Gérson.
Beijokas da Nanda.

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